Vergílio Ferreira nasceu em Melo (Gouveia) a 28 de Janeiro de 1916. Ainda novo, foi deixado pelo pais que emigraram para o Canadá, permanecendo com os irmãos mais novos. Frequentou um seminário, no entanto,essencialmente por falta de vocação acabou por sair. Licenciou-se em Filologia clássica e acabou como professor em Lisboa. Vergílio morreu no dia 7 de março de 1996, em sua casa, em Lisboa, na freguesia de Alvalade, no entanto, a seu pedido foi enterrado na Serra de Estrela.
O romance "Manhã Submersa"( que tem como tema central a sua experiência no seminário do Fundão) , foi adaptado para o cinema por Lauro António (realizador). Neste filme, Vergílio Ferreira interpreta um dos principais papéis, o de Reitor do Seminário.
De Vergílio Ferreira li "Contos", constituído por 26 contos, na minha opinião, bastante acessíveis e fáceis de ler. Estes tratam assuntos bastante variados e dão-me uma ideia de espontaneidade (na medida, em que foram escritos espontâneamente).
Referindo os contos:
- Adeus;
- Mãe Genoveva;
- O Encontro;
- Gló;
- A Palavra Mágica;
- O Fantasma;
- Saturno;
- O Jogo de Deus;
- Praia;
- O Sexto Filho;
- A Fonte;
- O Morto;
- Fado Corrido;
- O Cerco;
- Redenção;
- Linha Quebrada;
- A Galinha;
- Havia Sol na Praça;
- A Estrela;
- O Imaginário;
- A Visita;
- O Espirro;
- O Fresco;
- Asa de Corvo;
- Uma Esplanada sobre o Mar;
- Carta;
Dos contos anteriormente referidos, o que mais gostei (devo dizer que foi uma escolha fácil) foi "Uma Esplanada sobre o Mar" antes de mais porque faz referência a um meio que eu adoro e gostaria de estar neste momento, a Praia, e também porque é um conto que nos leva a reflectir e nos leva a por no lugar das respectivas personagens (neste caso, da rapariga loira de olhos claros e pele queimada e do rapaz também loiro). Alerta-nos para a forma como vemos e levamos a vida e também para a forma como encaramos a morte. Será que damos demasiada importância ás futilidades e pequenas coisas da vida, e não nos mentalizamos que esta tem um fim, que irá chegar mais cedo ou mais tarde?
A minha resposta é sim, no fundo, este conto funciona como uma crítica disfarçada e um alerta para a forma como a maior parte de nós aproveita a vida e dá valor aquilo que é realmente importante.
Algumas passagens de "Uma Esplanada sobre o Mar":
"-Nunca reparaste que há certas coisas que nós já vimos muitas vezes e que de vez em quando é como se fosse a primeira?"
"-Nunca está certa, aliás, seja a que hora for- continuou o rapaz.- Tudo pode estar certo talvez a qualquer hora. Menos essa banalidade ridícula da morte. De tudo se pode falar, menos dela. Nem falar, nem filosofar, nem fazer seja o que for que a tenha a ela em conta. Há um aliança contra ela como contra uma infâmia. Ou como se o não falar a excluísse. E é a única verdade perfeita."
"-A estupidez é só nossa, porque a vida não é verdade. Mas é a única coisa em que se acredita-disse o rapaz ."
Raul Germano Brandão nasceu no Porto, a 12 de março de 1867. Viveu 63 anos, durante os quais foi um militar, jornalista e escritor português famoso sobretudo pelo realismo das suas descrições.
A partir da obra que li, os Pescadores, constatei este facto, no entanto, foi um factor que me dificultou a respectiva leitura tornando-a significativamente repetitiva e
muito pesada.
O único capítulo que me despertou interesse suficiente para conseguir lê-lo com a devida atenção, foi o "Mulheres", no qual, o autor regista episódios que relembra da sua infância, de arrufos entre estas e salienta o papel imprescindível destas no "mundo" da pesca que nem sempre é devidamente reconhecido.
De um modo geral, este livro reflecte a vida instável e difícil dos pescadores e das suas famílias, facto que eu considero que se relacione com a sua própria experiência, sendo Raul, filho e neto de homens do mar.
Para vos elucidar um pouco fiz a recolha de algumas passagens, onde se torna evidente a admiração que o autor demonstra pelo papel das mulheres:
( Acerca da poveira)
"Eternas sacrificadas, tiram-no à boca para aparelhar o cesto dos homens: vendem, carregam as redes, lavam-nas, sem um fio enxuto no corpo, metem o ombro aos barcos para os deitar ao mar. Acabada a pesca, todo o trabalho cabe à mulher, que fabrica a graxa, que trata dos filhos, que faz redes, as lava e as conserta e que vai vender por esses caminhos fora.(...)A mocidade dura-lhes o que duram as rosas."
(Acerca da mulher de Mira(?))
"O lavrador é avaro: tira o pão da arca a medo, como quem sabe o que lhe custa de esforços persistentes- o pescador, num dia de fartura, enche a casa de pão. E o mar inesgotável não lhe foge...Mas ela não. Ela, remenda, poupa e vai arrancá-lo à taberna. Conheço-lhes desde pequeno os extremos de dedicação e de força diante da desgraça. Esta pobre mulher- terra virgem de ternura- merecia um lugar à parte na nossa terra, pela sua abnegação, pela sua energia, e até pela distinção de sentimentos. Em Mira, o lar é sagrado."
Para agravar um pouco a opinião negativa que detenho sobre esta obra em especial (e todas que li deste autor) houve outro capítulo que me chamou à atenção e que eu parti do princípio de que iria gostar, "As Berlengas" visto estar relacionado com Peniche, uma localidade que considero maravilhosa. No entanto, o autor não partilha da mesma opinião que eu, e aproveita o capítulo para denegrir um pouco a fabulosa imagem de Peniche.
"Peniche é horrível. Por toda a parte por onde têm passado os homens dos municípios- por toda a parte transformaram as terras cheias de carácter em terras incaracterísticas, com edificações banais, avenidas novas e chalés de zinco nos jardins. Degradaram tudo."
Concluindo, Raul Brandão não se encontra decerto nos meus favoritos.